Seu Vital
Seu Vital, no auge de seus 73 anos, decidiu que queria viver de arte. Mas nunca é fácil essa escolha. Pensei em dizer a ele em um de nossos primeiros encontros, mas como sempre, silencio diante de tanta força e desejo.
Ainda que sua mulher não entenda esses desejos que brotam da alma de seu Vital, ele tenta escapar da rotina. Não é nordestino, mas toda vez que põe a sanfona nos braços coloca esse chapéu de EVA feito cangaceiro. Seu Vital sabe das tradições. Ele entende a energia do fole mesmo que as letras ainda se embaralhem um pouco na sua cabeça.
Só agora ele consegue experimentar os sonhos. Voltou para a escola. Dizem que a velhice é a segunda infância, pois bem, seu Vital brinca e se diverte a cada novo encontro. Ele toca o lúdico, ao mesmo tempo em que toma decisões. E tomar decisões é coisa de adulto. Seu Vital decidiu, como nós, caminhar contra corrente, porque é o esforço maior que o faz sentir-se vivo. Seu Vital é vital (desculpem o trocadilho raso) para manter essa chama acesa em todos nós.
Por Ana Carolina Marinho e Ramilla Souza
Foto: Ana Carolina Marinho
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