Nossa História

O Estopô Balaio é um coletivo de artistas formado em 2011, no bairro Jardim Romano, extremo leste da cidade de São Paulo e que conta em sua maioria com a participação de artistas migrantes. É por esta condição de vida, a de um ser migrante, que nos reunimos no desejo de aferir um olhar sobre a nossa prática artística encontrando como estrangeiros a distância necessária para enxergar o olhar de destino de nossos desejos.

A distância geográfica de nossas lembranças e paisagens nos levaram a uma tentativa inútil na busca por pertencimento à capital paulista. Era preciso reinventá-la para poder praticá-la. Na busca pelo lugar perdido de nossa memória seguimos para fora e à medida que nos distanciávamos de um tipo de cidade localizada em seu centro geográfico, fomos nos aproximando de outras cidades, de outros modos de vida e de novos compartilhamentos. O cinturão periférico da cidade no seu vetor leste nos revelou um pedaço daquilo que tinha ficado para trás. Havia um Nordeste em São Paulo que estava escondido das grandes avenidas e dos prédios altos do centro paulistano.

Jardim Romano é um pedaço do cinturão periférico que guarda lembranças alijadas da construção histórica da cidade-império. Os edifícios que arranham o céu ajudam a esconder e afastar um contingente populacional que não consegue se inserir nos apartamentos construídos em novos condomínios.

A memória partilhada nos anos de residência artística no Jardim Romano são as nossas de estrangeiros de um lugar distante e a destes pequenos deuses alagados de uma cidade submersa pelo esquecimento. O encontro com o bairro se deu num processo de identificação, pois a maioria de seus moradores são também migrantes nordestinos que fincaram suas histórias de vida nos rincões da capital paulista. O alagamento do Jardim Romano era real, oriundo da expansão desordenada da cidade, o nosso era simbólico, originário da distância e saudade daquilo que deixamos para trás. Falar do outro e deixá-lo falar por nós tornou-se o percurso daquilo que começamos a fazer, criar arte a partir da necessidade de inventar a vida.

O Coletivo Estopô Balaio desenvolveu diversos trabalhos artísticos, entre espetáculos, oficinas, cine clube, intervenções de rua, performances, saraus. Hoje, a sede do Coletivo, Casa Balaio, abriga a residência artística de diversos coletivos, "Jardim Rimano", Taqta", “Arenga Filmes”, “Teatro Interrompido” e “Escória”, bem como realiza diversas ações como o Cine Varal Romano, batalhas de rima, saraus, abertos à comunidade. 

Com repertório de espetáculos que acontecem nos vagões de trem e na rua, a exemplo de “A cidade dos rios invisíveis” que recebeu o prêmio Shell na categoria Inovação em 2020, o Coletivo frequentemente desenvolve trabalhos itinerantes, que utilizam a cidade como suporte de cenário e dramaturgia e com a perspectiva de biografar personagens reais e levá-los à cena.

Desde 2020, o Estopô Balaio segue para uma nova empreitada, um mergulho profundo em si, na trajetória migrante e na retomada indígena que perpassa a maioria dos integrantes do grupo. Essa configuração de equipe estabeleceu-se dessa maneira pela continuidade de nossa pesquisa envolvendo fluxos migratórios e o aprofundamento desse tema, que envolve interesses de ampliação de consciência indígena em corpos urbanizados, mestiçagem e memória étnica, fortalecimento de redes politizadas na periferia e valorização da presença de corpos nordestinos/migrantes/indígenas diante da demanda territorial de moradia e dignidade de vida na metrópole paulista. Nasce, assim, o sonho da TRILOGIA DA AMNÉSIA, composta pelos espetáculo RESET NORDESTE (versão online, planejamos construir uma versão presencial), RESET BRASIL e RESET AMÉRICA LATINA (que ainda não iniciou o processo de montagem).

O longa-metragem documental "Estopô Balaio", dirigido por Cristiano Burlan, que mergulha na trajetória do grupo e ficou em cartaz no CineSesc em 2017 com distribuição da SPCine (o filme participou de importantes festivais como o Festival de Cinema de Brasília, Festival Latino-Americano, etc). Atualmente está licenciado pelo SescTV e é possível assistir na internet. 

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