Diário do Espectador A Cidade dos Rios Invisíveis: Flávio Assis
Do viajante Flavio Assis:
A vida é um rio
Hoje, como sempre tem sido nesses três anos de desterro, de estado migratório, a pauliceia surpreendeu-me, sensivelmente. Lancei-me numa viagem à "cidade dos rios invisíveis", a convite das amizades tenras de Angela, Beto e Lucinha. Foi uma incursão cênica, promovida pelo Coletivo Estopô Balaio, às profundezas da Zona Leste da cidade, no bairro Jardim Romano. Da estação de trem, no Brás, ao destino final, uma cidade da invisibilidade se desvelou na janela do vagão. As casas nuas escancaravam varais, onde quaravam as intimidades dos seus viventes, aos passantes no trem.
Agora, enquanto escrevo, ocorreu-me a ideia de que os tais "rios invisíveis" de Jardim Romano, que nas torrentes de verão transbordam seus habitantes, são no fundo, metáforas esquecidas de nós mesmos, de cada passageiro ao sabor da locomotiva, até mesmo dos transeuntes que nunca transarão suas ruas, suas corruptelas do habitar. Afinal, sei o que há de rio nas existências, daquilo que os flúvios despejam nas ribeiras dos leitos, e do quanto a vida de cada pessoa é um pouco da vida de tantas outras, correntezas humanas na foz do existir.
Só agradecer.
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