MEMÓRIAS E FICÇÕES COLETIVAS: A AUTOFICÇÃO COMO EXERCÍCIO DE REELABORAÇÃO DO LUGAR NO TEATRO LATINO-AMERICANO

Esta dissertação elabora o modo como o teatro intervém na relação estabelecida com os lugares a partir de trabalhos que têm a memória como eixo norteador, tendo como elo entre o teatro e a relação com o lugar a noção de autoficção coletiva. Assim, a pesquisa discute a potência de estar junto em ações mediadas pelo acontecimento teatral. O trabalho apresenta tal reflexão a partir da análise de práticas de grupos de teatro da América Latina, com ênfase no Coletivo Estopô Balaio de São Paulo-SP. Para isso, os objetivos da pesquisa foram analisar a presença da memória do lugar no teatro de grupo latino-americano; investigar a viabilidade de uma autoficção coletiva na América Latina; e argumentar pelo teatro como caminho possível para viabilizar uma sensação de pertencimento com o lugar. Para atingir esses objetivos, os caminhos metodológicos que optei por adotar foram a cartografia, muito aliada ao exercício do ensaio visual que propõe uma textualidade alternativa à escrita; e a pesquisa-narrativa, em especial a partir da construção de um texto que oscila entre narrativas pessoais e debates de cunho coletivo, em um processo de constante reelaboração, de mim, do outro, do mundo. Em diálogo com o referencial teórico e artístico, em destaque Leda Maria Martins (2023), bell hooks (2022), Milton Santos (1988), André Carreira (2012), Ecléa Bosi (2004), Grupo Cultural Yuyachkani, Grupo Carmin, Cia KIMVN e Coletivo Estopô Balaio, a dissertação demonstra que há uma tendência no teatro contemporâneo da América Latina em reescrever as histórias dos lugares, vislumbrando uma narrativa plural, que não reduza as sociedades a uma imagem hegemônica. Nesse sentido, foi possível notar duas potências de ação, são elas: a rua e a comunidade. Por fim, a pesquisa demonstra que o teatro, a partir do exercício da autoficção coletiva, convoca a comunidade a reelaborar as memórias do lugar, propondo, assim, novas imagens sobre ele. Com este movimento, os lugares passam a ser praticados pelos seus moradores e a comportar novas narrativas sobre si, o que corrobora com o vínculo entre a comunidade e o lugar, contribuindo com o sentimento de pertença.

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