Da tragédia para a arte, o documentário "Estopô Balaio" mostra a força do "paulistano nordestino"

A migração no Brasil é muito comum do nordeste do país para cidades do sudeste como Rio de Janeiro e principalmente São Paulo, que abriga pessoas do país todo e também do mundo. Com essa mistura, a cultura do paulistano se confunde com uma que é criada do zero pelos que tentam a vida por lá e assim o resgate dos valores natais com a nova vida, forçam o novo morador a buscar identificação e por isso a cidade muda e desenvolve uma cara única, cosmopolita, acolhedora e com uma das maiores hospitalidades do mundo.

Nesse resgate de redescobrimento de uma comunidade nordestina, surgiu um grupo de pessoas que se formaram no Jardim Romano no leste da capital paulista, chamado Coletivo Estopô Balaio, com o objetivo de contar a história de sua gente através de criação, memória e narrativa. Após a enchente que alagou a região toda por 3 meses, criando rios invisíveis, o grupo cultural ganhou força para fazer arte como forma de superação desse trauma que matou gente e realmente mudou a maneira como se vive no Jardim Romano.

O documentário Estopô Balaio, com direção de Cristiano Burlan, explica essa trajetória pela voz dos próprios moradores, com entrevistas e também vídeos caseiros onde eles mostram suas casas, contam como eles vivem com essa realidade de enchente que acontece sempre que o rio e os bueiros enchem. O filme realmente celebra toda a riqueza das rimas e criatividade que circula pelas ruas e motiva essas pessoas a não esquecerem de quem elas são.

Entre os momentos mais marcantes há uma fala em que duas senhoras nordestinas dizem que nunca viam água na terra delas, pois quando vieram pra São Paulo foi só água, tirando sarro da situação. Outro destaque narrativo e contextual é quando um dos personagens fala sobre sua história de um pai abusivo e intolerância na família como um todo, que sem discernimento fazem besteira e depois condenam a perda de uma relação familiar saudável. Isso é muito comum e é geralmente o que desperta a migração, a fuga.

Com um olhar limpo e uma sensibilidade impar, o filme emociona, informa e apresenta a cara do nosso povo, quem faz e acontece, quem batalha, sustenta e persiste. Essas características são presentes em muitas comunidades que buscam a arte para suprir a saudade de uma família e como ajuda para seguir em frente. As mensagens são muito bem apresentadas sem focar na enchente, mas sim nas pessoas, o espetáculo não está na tragédia e sim, em cada um que constrói um dia novo no Jardim Romano.

Nota:

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