Cristiano Burlan fala sobre seu novo filme Estopô Balaio
Nascido em Porto Alegre em 1975, Cristiano Burlan é diretor de cinema e teatro. Na década de noventa morou em Barcelona, onde dirigiu o grupo de cinema experimental “Super-8”. Em São Paulo, esteve à frente do grupo de teatro “A Fúria”. Sua filmografia contém mais de 15 filmes, entre ficções e documentários. (Academia internacional de cinema).
Sua nova produção Estopô Balaio acaba de chegar aos cinemas e nela Burlan apresenta o trabalho do grupo teatral que há cinco anos desenvolve um processo artístico a partir das experiências dos moradores do Jardim Romano, bairro localizado na periferia de São Paulo, experiências com as águas das enchentes que assolaram suas vidas durante dez anos.
O jornalista Juca Claudino entrevistou o Cristiano sobre esse lançamento.
1. CCINE10 – Se olharmos o congresso, o senado, os prefeitos e governadores, poucos serão aqueles que vieram de um contexto social como o do Jd. Romano, bairro de SP no qual a maior parte do filme foi filmado. Você vê essa segregação e opressão social como um descuido sem propósito do processo de formação do país ou como um projeto muito bem orquestrado ao longa da história do pais e a favor daqueles que concentram a brutal maior parte da renda?
CRISTIANO BURLAN – Acredito que seja um projeto muito bem orquestrado. A segregação é consciente e oportuna para manter a opressão e as pessoas no lugar que estão. Se essas pessoas tivessem vindo de lugares como o Jardim Romano, tenho certeza que a relação seria diferente e existiria mais respeito, mais solidariedade, mais alteridade.
2. CCINE 10 – A arte é um meio de resistência à opressão? Como o coletivo focalizado no filme, o Estopo balaio, te ajuda a pensar essa questão?
CRISTIANO BURLAN – Sem dúvidas! A arte é instrumento de mobilização, de resistência à opressão e ao descuido. A arte é cura também. Acredito que o Estopô me acende a concretude de que a arte é transformadora e capaz de conduzir o indivíduo por um mundo de possibilidades. A arte liberta a imaginação criadora, a arte revoluciona nesse sentido.
3. CCINE 10 – Como você conheceu o grupo e quando percebeu que ele precisava ser tema de um filme?
CRISTIANO BURLAN – Eu conheci a partir do instante que comecei a trabalhar com a atriz Ana Carolina Marinho no filme “Hamlet”. Ela é atriz do coletivo e produtora do filme também. A partir da paixão dela pelo trabalho, fui conhecer e desde a primeira vez que vi o espetáculo deles eu quis percorrer essa travessia com a câmera na mão.
4. CCINE 10 – Enquanto autor, quais são as suas maiores influências? Você consegue notar em “Estopo Balaio” intertextualidades com algumas dessas suas referências?
CRISTIANO BURLAN – A minha maior influência é a vida, são as narrativas pessoais, é a oralidade. O coletivo também trabalha com essas influências. A arte deles acontece no espaço público, na frente e dentro das casas das pessoas. Eles devolvem paixão ao cotidiano.
5. CCINE 10 – Qual a importância para o cinema brasileiro de ter produções de baixo custo e independentes, com temas e estilos que diferenciam-se tanto daquilo que chama de “padrão do mercado”, em cartaz no circuito comercial?
CRISTIANO BURLAN – Acredito na importância de todas as possibilidades de produção. Elas geram novos olhares sobre o cinema, sobre a linguagem, sobre os realizadores. Fico feliz que as produções de baixo de custo estejam conquistando espaço para distruibuição, mas ainda é muito incipiente. Não podemos esperar o cenário ideal para criar e produzir. O cinema é o que me mantém a salvo.
Comente