Uma mãe periférica que busca pelo paradeiro do filho é o tema explorado em "A Mãe", filme de Cristiano Burlan, 47, que estreia neste dia 10 de novembro nos cinemas brasileiros. A produção esteve presente na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo deste ano e também foi exibida pela primeira vez no 50º Festival de Cinema de Gramado de 2022.

Gravado no Jardim Romano, bairro do Jardim Helena, na periferia da zona leste da capital paulista, o longa conta com os moradores da região para compor parte do elenco. Retratando a violência policial, o diretor busca representar o sofrimento de mães que, muitas vezes, não conseguem nem mesmo enterrar o próprio filho.

"É uma história pessoal. Meu irmão foi assassinado na periferia de São Paulo em 2001 por uma quadrilha comandada aparentemente por policiais militares, apesar de nunca ter sido comprovado", explica Burlan.

Além da experiência pessoal, o que também motivou o diretor a construir tal projeto foram outros fatos e referências que mostravam a luta de mães pelo direito de vivenciar o luto.

"Em 2006, após ações do Primeiro Comando da Capital (PCC), a Polícia Militar do Estado de São Paulo foi autorizada a ir atrás de quem comandou os ataques e quem sofreu essa violência foram os jovens pretos e periféricos".

 Como reação à violência do Estado, surgiu no mesmo ano o grupo "Mães de Maio", formado por mulheres que perderam os filhos nos ataques. Débora Silva, líder do grupo, também participa do filme como uma das personagens.
 
"Morreram quase 500 pessoas, muitos deles jovens. Parte desses crimes não foram resolvidos e alguns corpos não foram encontrados" - Cristiano Burlan, diretor do filme.

Segundo ele, desde o início, o Jardim Romano foi imaginado como um cenário importante para retratar a história. "Ana Carolina Marinho é minha parceira de criação. Ela reside artisticamente no bairro e é roteirista do filme. Foram sete anos de desenvolvimento, captação de recursos e laboratórios até o fim das filmagens", conta ele.

Por conta da roteirista, o grupo de teatro Coletivo Estopô Balaio, que atua na região, também participou da produção e ajudou a compor o elenco. "O coletivo deu espaço para o meu corre artístico. Fiz parte do espetáculo 'A Cidade dos Rios Invisíveis' e assim fui construindo minha arte", conta Dunstin Farias, 25, rapper e ator que interpreta Valdo, o filho desaparecido de Maria.

Já a mãe retratada no filme foi pensada para quem a atuação da personagem seria destinada. "Se não fosse Marcélia Cartaxo, não teria sido gravado", revela Burlan. O diretor construiu a história de Maria visualizando a atuação da atriz conhecida por interpretar Macabéa, de "A Hora da Estrela".

 "Mergulhamos a fundo na temática. O processo de trabalho foi focado na comunidade, vivenciei a Maria lá dentro. Foi doído, mergulhei tão profundamente que senti emoção ao olhar as mães que passaram por isso", conta Marcélia.

"Ter contato com isso é violento demais, nenhuma mãe de qualquer classe que seja merece passar por isso. Muito menos quem vive nas periferias. Por que o trato tem que ser violento onde mais se precisa ser assistido?", questiona a atriz.

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