Coletivo Estopô Balaio
[de] Criação, Memória e Narrativa
Quem somos nós?
O Coletivo Estopô Balaio surgiu em 2011 no bairro Jardim Romano, na Zona Leste de São Paulo, e consolidou sua atuação no espaço público, propondo novas relações com a cidade e novas experiências de praticar a vida urbana. O grupo é formado por artistas migrantes, em sua maioria vindos de estados do Nordeste, e trabalha com a perspectiva de arte em comunidade. O Coletivo encontrou no bairro um lugar de pertencimento e acolhimento e definiu seu endereço na rua Adobe, 47, onde instalou a Casa Balaio, que abriga diversos grupos, oficinas e espetáculos. Com repertório de espetáculos que acontecem nos vagões de trem e na rua, a exemplo de “A cidade dos rios invisíveis” que recebeu o prêmio Shell na categoria Inovação em 2020, o Coletivo frequentemente desenvolve trabalhos itinerantes, que utilizam a cidade como suporte de cenário e dramaturgia e com a perspectiva de biografar personagens reais e levá-los à cena.
"O Brasil não existe, o Brasil é uma invenção. A invenção do Brasil nasce exatamente da invasão inicialmente feita pelos portugueses, depois continuada pelos holandeses, depois continuada pelos franceses, num moto sem parar, onde as invasões nunca tiveram fim. Nós estamos sendo invadidos agora"
Ailton Krenak
Trilogia da Amnésia
Em 2020, iniciamos um mergulho profundo em nós mesmos, na nossa trajetória migrante e na retomada indígena que perpassa a maioria dos integrantes do grupo. Assim nasce a Trilogia da Amnésia composta pelas peças Reset Nordeste – encenada em versão on-line e que provavelmente terá uma versão presencial – RESET BRASIL e Reset América Latina, em processo de pesquisa.
Em RESET BRASIL, trazemos a pesquisa e provocação de Juão Nyn, ator do Coletivo e indígena Potyguara, para a cena, bem como nossa inquietação como artistas migrantes, em sua maioria vindos do Nordeste, e desterritorializados. Seguimos com nossa pesquisa envolvendo fluxos migratórios e o aprofundamento desse tema, que envolve interesses de ampliação de consciência indígena em corpos urbanizados, mestiçagem e memória étnica, fortalecimento de redes politizadas na periferia e valorização da presença de corpos nordestinos/migrantes/indígenas diante da demanda territorial de moradia e dignidade de vida na metrópole paulista.
RESET BRASIL
Em março de 2023, o Coletivo Estopô Balaio estreia seu mais novo espetáculo, RESET BRASIL. Com 20 atores em cena, sendo 12 crianças, espetáculo tem dramaturgia de Juão Nyn e direção de Ana Carolina Marinho e volta a utilizar as viagens de trem para a encenação. Agora o destino é São Miguel Paulista e o público é levado pelas ruas do Jardim Lapena e pelo Museu Capela dos Índios que fica na Praça do Forró, região onde foi confabulado um dos maiores ataques Indígenas do Estado de São Paulo. Em RESET BRASIL, o público é convidado a sonhar rotas de fuga para o Brasil. Ao embarcar no trem, rumo a São Miguel Paulista, mergulha em um transe: o Brasil sumiu do mapa. Munidos com aparelhos sonoros, o público vai sendo guiado por vozes de crianças e anciãos que falam em português e em diversos idiomas nativos. O público desembarca em São Miguel Paulista e é recepcionado por um levante indígena no Jardim Lapena. Aos poucos vai descobrindo que o antigo aldeamento Ururay ainda resiste e planeja um novo cerco. Os moradores, as crianças e os artistas vão se revelando a partir de suas ancestralidades: indígenas vindos de África, de Abya Yala, benzedeiras, pajés, nordestinos. Numa espécie de sonho lúcido, os personagens não se aquietam diante do pesadelo Brasil e constróem novas narrativas, contra coloniais. Para sonhar outro mundo é preciso voltar a dormir e São Miguel Paulista tem vocação para isso: é um bairro dormitório.